Reconhecimento de um trabalho, Banda Scalene.
- Carol Stussi
- 21 de nov. de 2016
- 2 min de leitura

Música é o rutilar do espírito, a voz dos esquecidos e o espelho da alma. Sim, escrever é algo que representa o seu infinito particular, cada qual tem o seu próprio insight, como um sopro de criatividade. No meu caso, a música brota da tristeza, de uma dor profunda e da necessidade de compreensão daquilo que me aflige. Agora imagine ganhar um prêmio, ser compreendido e reconhecido por aquilo que se é.
Sua essência está impressa na escolha da rítmica e das letras. É assim que enxergo a ganhadora deste ano do Grammy Latino, na categoria melhor álbum de rock na língua portuguesa. A Banda Scalene, revelada ao público brasileiro pelo programa SuperStar de 2015, já se fazia conhecida no cenário alternativo desde 2009. Agraciada com essa indicação e premiação, hoje figura como um dos grupos que mantém a chama do rock viva. Para Gustavo Bertoni (guitarra e voz): "Vemos essa indicação como o reconhecimento de um trabalho que vem sendo realizado de forma apaixonada, sem pensar em prêmios, algo que pode se tornar limitador. Mas por outro lado é uma honra ver o nome da banda ao lado de outros artistas importantes do nosso segmento".
Irmãos e amigos, vindos de Brasília, eles são uma família que construiu na infância o sonho de viver da música. Como a maioria de nós apaixonados por músicas, e que um dia vislumbraram estar na posição deles, é extremamente reconfortante saber que fazem música por amor, sem se limitar ao que o mercado espera.
Passei a tarde ouvindo o álbum Éter (2015), que concorreu ao prêmio, e ao som do Full Show (on Audio Arena Originals). Digo com propriedade que o som da banda me causa um sentimento de reflexão sobre a vida e o que realmente importa nesse caos, que é viver. Não que eles sejam pessimistas, mas abrem mão de canções românticas para falar sobre sanidade e valores, sobre a temporalidade da vida e o fogo de nossas convicções que ardem sem doer.
Minhas músicas preferidas no álbum Éter são: "Legado", "Náufrago" e "Loucura-se". Em "Legado", a letra nos faz refletir sobre os equívocos gerados pela nossa busca incessante por poder e em satisfazer nossos desejos. Ela nos leva a pensar no rumo de nossas vidas. "Náufrago" me remete ao modo como lidamos com o mundo e as nossas convicções, como se o barco estivesse nos levando a caminhos inimagináveis. E "Loucura-se" é uma critica à sobriedade da vida, como se estivéssemos podados e engessados. A vida entorpecida e anestesiada.
Não espere um álbum calmo e lento, cuja sofreguidão te leva a pensar em tristeza. Pense em uma tormenta, sons que levam você da calmaria ao mar revolto, com letras fortes que você precisa ouvir e ler. Imagine uma bateria que leva o seu coração a pulsar, acelerando o ritmo do seu pensamento rumo a alguma coisa. Sinta a guitarra te conduzir por caminhos tortuosos. Não é algo comum no rock brasileiro, faz parte dessa nova leva, que se inspira nos sons alternativos do cenário internacional. Eu gosto, e você?
Carol Stussi
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