Lançamento Netflix: O Mínimo para Viver.
- Thalita Amaral
- 29 de jul. de 2017
- 3 min de leitura

Filmes sobre transtornos alimentares são menos comuns do que imaginei. Após uma pesquisa rápida na internet, notei que são escassos e aqueles que existem não tiveram grande repercussão. Existem, de modo geral, personagens dentro de filmes, séries e novelas que, em algum momento da trama, levantam questões referentes ao tema, como é o caso do filme Cisne Negro (2011). Inovando novamente, a Netflix põe em destaque esse assunto em seu mais recente lançamento.
O Mínimo para Viver (To The Bone, 2017) conta história de Ellen (Lily Collins), jovem que sofre de anorexia. Após passar por várias clínicas e não se adequar, Ellen encontra um médico nada convencional (Keanu Reeves) que a desafiará a lutar pela sua vida. P.S.: Odieiiiiii o nome utilizado no Brasil para o filme. A tradução literal Até o Osso, é muito mais impactante.
Lily Collins sempre foi uma atriz da qual desconfiei, mas paguei minha língua, ainda bem. Conheci a filha de Phil Collins no filme Um Sonho Possível (2009), mas ali não deu pra ter de fato uma noção acerca de seu trabalho. Foi quando ela interpretou a Branca de Neve em Espelho, Espelho Meu (2012) que decidi que não gostava dela como atriz. Não parou por aí, em 2013 ela protagonizou o fiasco Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos e concretizei minhas impressões. Quando achei que não mudaria de ideia a respeito dela, ela surge no romance Simplesmente Acontece (2014) e começa a mostrar amadurecimento em sua atuação. Hoje, após vê-la em O Mínimo para Viver, posso dizer que Lily Collins é uma das atrizes mais promissoras da nova safra Hollywoodiana.
Pra começar a atriz faz uma transformação física chocante para interpretar o papel de Ellen. As cenas que mostram a personagem se pesando com poucas peças de roupa evidenciavam suas costelas e os ossos da face. Algo que apenas maquiagem não seria suficiente para mostrar, por isso demandou realmente o envolvimento da atriz.
Com o filme observei que sabia muito pouco, na verdade apenas o superficial sobre transtornos alimentares. Vemos como é realmente doloroso o ato de comer para as pessoas com anorexia. Tanto, que na casa de reabilitação a sala de jantar é apelidada de sala de tortura. As táticas utilizadas para driblar a supervisão, o vício por exercícios físicos a ponto de deixar marcas de abdominais nas costas, tudo leva à reflexão profunda sobre o que motiva tais distúrbios. Em entrevista, a atriz Lily Collins fez um relato que levanta questões importantes: “Eu estava saindo de casa esses dias e uma mulher que conheço há muito tempo, da idade da minha mãe, olhou para mim e disse ‘Uau, olhe para você!’. Eu tentei explicar que estava emagrecendo para um papel e ela disse ‘Não! Eu quero saber o que você está fazendo, você está ótima!’. Depois disso, entrei no carro da minha mãe e disse ‘É por isso que esse problema existe”. Mais uma reflexão: onde chegaremos com os padrões de beleza impostos pela sociedade?
O filme choca, mas, ao mesmo tempo, escolhe saídas suaves para atingir o público mais jovem passando a mensagem sem glamourizar os distúrbios. Talvez essa suavizada o impeça de ganhar prêmios, mas fará com que o filme tenha uma melhor arrecadação, dada a linguagem mais juvenil. Os personagens coadjuvantes mostram um pouco mais dos diferentes casos e distúrbios relacionados à alimentação. Keanu Reeves mata nossa saudade interpretando o Doutor William. Drama não é o forte do ator. Ele não impressiona, mas faz sua parte.
As relações familiares são exploradas. Seriam elas a justificativa para distúrbios ou não? Somos convidados a pensar a respeito disso e vamos conhecendo o passado de Ellen que apresenta uma vida pra lá de complexa e eventos traumáticos. A cena mais marcante para mim envolve ela e sua mãe, ao final. Comovente e alarmante.
Indico o filme e inclusive pretendo trabalhá-lo com meus alunos. É um assunto que deve ser debatido, de forma a impedir que mais pessoas adentrem esse caminho que pode ser sem volta.
Nota: 8,5.
Thalita Amaral
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