Filme: O Contador.

O Contador (The Accountant) foi um filme lançado em 2016, com direção de Gavin O'Connor e roteiro de Bill Dubuque. Em sua história, Ben Affleck vive Christian Wolf, um homem dividido entre fazer o bem e o mal, em ser um herói ou um vilão e que precisa a todo instante lidar com suas fragilidades. Wolf é um contador que presta serviços para um grupo extenso de clientes que vão desde pessoas com pequenas empresas domésticas a criminosos. Além disso, o personagem é um exímio atirador, lutador, matemático e, para completar, se mostra fascinado por armas, arte e gibis. Ele definitivamente não possui uma vida convencional e muito menos entediante. Essas características fazem dele um homem brilhante, instável e curioso. Mais curioso ainda é ver como uma criança autista conseguiu chegar a esse grau de desenvolvimento.

O autismo, para aqueles que desconhecem, é uma condição permanente, que pode estar associada a dificuldades de aprendizagem, de coordenação, de atenção, problemas físicos e de saúde. Alguns portadores dessa síndrome podem ter uma vida relativamente "normal", enquanto outros poderão precisar de auxílio. O personagem de Ben Affleck se enquadra no grupo daqueles que conseguem ter uma vida normal quando adultos. Infelizmente, o diretor não soube, ou não possuía a intenção, de demonstrar meticulosamente o desenvolvimento do jovem e sua relação com o TEA (Transtornos do Espectro Autista). Ainda assim, a atuação de Ben Affleck revela algumas características pertinentes à síndrome.

O longa tinha tudo para se tornar excelente, mas acaba deixando muitas lacunas durante o seu processo de construção. Em alguns flashbacks, o diretor procura construir a personalidade do jovem e dar ao espectador uma noção de como foi a trajetória de Wolf. Entretanto, os detalhes foram relegados, deixando a história sem respostas. A impressão que o filme nos proporciona é que a intenção do diretor é caminhar rumo à uma continuação.

Entre os pontos positivos está o fato de Christian Wolf ser retratado como alguém que tem uma boa percepção visual, é detalhista e que beira a perfeição no que se propõe a fazer. Essas características demonstradas a todo instante evidenciam a tentativa de caracterizar o personagem de acordo com sua síndrome. A capacidade de memorizar, sua concentração em afazeres específicos e a necessidade de manter uma rotina para manter o equilíbrio do seu dia a dia, conseguem dar contorno ao protagonista. O filme acaba se tornando bom à medida que você se interessa pelo personagem e sua vida nada normal.

A escolha de Ben Affleck para o papel foi muito boa, porque o ator encontrou o tom certo para viver o personagem. Apesar de algumas críticas avaliarem sua atuação como inconsistente, eu achei que o seu olhar perdido, sua expressão sisuda e a dificuldade de expressar sentimentos fizeram o personagem caminhar muito bem.

Apesar das lacunas, que eu gostaria que fossem solucionadas, considero O Contador um filme bom, que trata de um assunto sério, mas cuja intenção principal é se ater à ação, e não a questões profundas.

Carol Stussi

#OContador #BenAffleck