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“O grande gênio da literatura brasileira” – uma análise sobre sua obra.



Engraçado como a literatura é atemporal. Li Dom Casmurro, de Machado de Assis, quando jovem e, 20 anos depois, fui novamente impelida a ler. Fui obrigada a ler, na realidade, por uma necessidade linguística, mas agora com a devida maturidade lancei um novo olhar sobre a importância da obra. E por ironia do destino, procurando o que escrever, descobri uma recente matéria sobre o autor.


Uma matéria engrandecedora e que enaltece o Brasil ao conferir ao autor um papel de destaque na literatura mundial. Antônio Maura, escritor e crítico espanhol, em uma de suas entrevistas revelou ao mundo que Dom Casmurro e Quincas Borba são dos livros “mais importantes de sua geração, não apenas do Brasil, mas de todo o mundo”. Ele defendeu que Machado de Assis merecia um devido reconhecimento mundial. Reconhecimento por sua capacidade literária e pelo caráter atemporal e inovador de suas produções. E será sobre as minhas considerações acerca da obra Dom Casmurro que a nossa história começa.


Um livro, várias incertezas, inúmeras possibilidades. Essa poderia ser uma ótima descrição para obra Dom Casmurro. Machado de Assis conseguiu ultrapassar as barreiras de seu tempo. Sua história, seus dizeres e pensamentos permitem ao leitor decidir e interagir com o suposto transcorrer da obra.


Uma narrativa psicológica que parte das lembranças tardias de um homem atormentado por seu passado. Personagem, narrador e inquisidor, esse é o nosso Dom Casmurro. Aquele que nos conduz perante toda as suas memórias, que outrora fora seu pesar e alegria. Essa talvez tenha sido a grande estratégia do autor. Conceder a um personagem volátil toda a responsabilidade por narrar os acontecimentos. Um narrador cuja pretensão é ser imparcial e nos contar uma história, contudo que já nas primeiras frases e capítulos, nos revela uma apresso e uma dependência muito forte por suas lembranças. Deste modo, qual seria realmente a posição do narrador? Aquele que idealiza? Aquele que fantasia uma história ou aquele que narra a pura realidade dos fatos?


Dom Casmurro nos permite duas interpretações, duas faces de uma mesma moeda. Machado de Assis foi muito astuto ao colocar pistas e suposições, mas nada que pudesse gerar conclusões definitivas sobre a história. O narrador e personagem Bento Santiago, minucioso em seus detalhes, comprometido com os fatos a serem descritos, não nos dá certeza sobre a clareza de suas lembranças. Ele nos deixa sem respostas aparentes, somente o que paira no ar é a possibilidade de um adultério. Mas um adultério que ele, amargurado pelas suas lembranças, descrente da idoneidade de sua mulher e com inúmeros outros fatores pujantes, poderia ter forjado no âmago de suas incertezas e lembranças. Seria ela uma história fantasiosa?


Machado de Assis, coloca o leitor na posição de algoz e juiz. O leitor pode aceitar a narrativa dos fatos como uma verdade absoluta, um relato verídico de um adultério. Ou o leitor pode assumir uma postura mais investigativa, analisar os fatos diante da realidade da época e dos acontecimentos e da própria visão da sociedade. Ciúme ou adultério, ler a história sobre a ótica do narrador ou da mulher, do traído ou da acusada, várias possibilidades são postas à mesa.


A obra Dom Casmurro extrapola o padrão de leitor. Foge à minha compreensão se ele possuía a noção da complexidade dessa obra, porém tudo indica que sim, já que sua publicação anterior Memórias Póstumas de Brás Cubas, seria talvez dirigido a vários leitores. Dom Casmurro foi publicado em uma época em que poucos tinham acesso e interesse pela leitura nacional. Portanto, presumir que o leitor poderia mover-se em direção a construção do texto e as suas múltiplas abordagens foi algo esplendoroso. Ele conseguiu servir a dois propósitos, ser um retrato de uma época e uma possibilidade futura de interpretação. O livro se revela uma obra aberta, que permite ao leitor ser livre, quase um episódio do programa televisivo Você Decide (1992-2000).


Você deveria ler os clássicos. Eles te surpreenderão, sempre.


Carol Stussi

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